Toque de recolher

O povo brasileiro quando ouvido no mundo da segurança pública, demonstra acreditar no projeto de uma polícia cidadã, participando como parceiro na condução do processo, com idéias e denuncias. Infelizmente, durante certo período, em alguns estados, possivelmente retornou-se às agruras do inferno social, por força da falta de planejamento técnico dentro e fora do jogo político na área de segurança.

A sociedade para acreditar no projeto de uma Polícia brasileira Cidadã, quer ter a certeza de que o projeto é bom. Esta surge à medida em que a instituição policial possui inicio, meio e fim, mas ainda que, a mesma (POLÍCIA) encontra-se em parte mergulhada no retrocesso de homens que entram para história calados e assim permanecem, salvos pelos “sim senhor” que decoram e não cansam de repetir. Por isso, também sairão calados, tal como entraram, e ainda, sem elegerem seus candidatos.

É por culpa deles que hoje, esse mesmo povo está sendo obrigado a cumprir um vergonhoso “toque de recolher”, decretado em certos pontos de algumas cidades. Aqui no Pará, essa triste realidade foi relatada no caderno “Diário Polícia”, do jornal “O diário do Pará” em reportagem cujo título chamou-se “Malandros impõem o toque de recolher” prevendo, ou, afirmando a chegada e influência do poder paralelo do mundo marginal, também em nossa capital.

Na mesma reportagem, as autoridades apresentaram sucessivas rondas como o remédio encontrado; Data Vênia, as mesmas, não resolvem o problema, que não deveria nem mesmo ter iniciado se o trabalho de operacionalidade do conceito de prevenção, casado com o de repressão, tivesse tido continuidade técnica. Assim, as estatísticas de homicídios recentemente divulgadas, são possivelmente questionáveis na forma como foram apresentadas.

Não se trata de viver de memórias, mas de utilizar a experiência adquirida com trabalhos técnicos do passado, para garantir sucesso nos trabalhos atuais e futuros, pois, a técnica está para a prevenção, como a mãe está para o filho, e para a repressão como o pai está para a família.

O crime deve ser analisado do ponto de vista histórico, político, cultural, social, etc; sem a pretensão de se achar que uma simples ronda policial resolva o problema.

Uma instituição de segurança não é, e nem jamais será uma obra acabada, pois, o assunto é mutante e requer sempre um acompanhamento rigoroso do desenvolvimento da mentalidade e atuação dos criminosos e bandidos, para poder assim, a sociedade sadia e/ou dominante, tomar conhecimento das novas técnicas e combatê-las com eficiência. Isso, entretanto, não significa abandonar toda a experiência por ventura conseguida, com um trabalho que deu certo por muito tempo, notadamente quando não se tem outra “técnica” para se por em ação.

Agora, só resta uma alternativa: combater com técnicas eficazes, muitas até simplistas, o marginal por opção, utilizando se necessário, até da força defensiva na forma da Lei, e rezar para que o novo presidente acabe logo, com o uso da maquiagem de décadas sendo aplicadas na área de segurança, para que finalmente o rosto da mesma no Estado brasileiro, possa ser visto sem o medo do humilhante “sim, senhor!” hoje muito em voga no meio policial brasileiro.

Para tanto, é preciso acreditar que algumas coisas são perfeitas quando estão juntas. A segurança pública é tudo o que precisamos, agora num só lugar. Integrada e a caminho da unificação natural completa. Humanística e eficiente. As policias tornam-se uma equipe cheia de vitalidade e trazem vantagens ao social, com elas unidas pelo processo natural, você imprime fotos da cidadania plena, através das ações diretas de combate a criminalidade, diagnosticando nossas mazelas por imagens da realidade em tempo real, transformando trabalhos cansativos por prevenção empírica e muito mais.

Tudo sem ocupar espaço e sem sair da competência de cada segmento dos departamentos de segurança. Não complica. É prático, fácil e econômico; só com a integração e a caminho da unificação das instituições de segurança, a declaração pública de medo por parte dos comerciantes que cumpriram a absurda ordem, do toque de recolher, do paralelo poder marginal poderá ser ouvida. Não por rondas empíricas. E, sim por detalhamento estatístico em prevenção e repressão técnica, via área de inteligência e relato do fato criminoso por parte da vítima.

Não esperem soluções mirabolantes, os nossos centros comunitários são o inicio e/ou a retomada para a solução de todo e qualquer toque de recolher. Associados ao sistema de segurança pública e unificados na vontade do bem comum, como primeiras medidas de reaproximação da sociedade e polícia, eles são as melhores armas para por em pratica o controle das nossas mazelas sociais. Está ai, o sinal que identifica o poder paralelo dos marginais.

JOÃO MORAES: Ex-Delegado Geral de Policia, Professor e Especialista em Segurança Pública.